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Pesquisa aponta as mulheres com maior resistência ao coronavírus

Hormônios femininos podem ter papel protetor contra Covid-19

As mulheres parecem ter maior resistência ao coronavírus. Uma das evidências está nos números: entre os hospitalizados por Covid-19 até o dia 14 de junho, 60.940 são homens e 44.899, mulheres, segundo o mais recente Boletim Epidemiológico Especial, elaborado pelo Ministério da Saúde. Uma equipe de cientistas brasileiros estuda até que ponto os hormônios femininos são os responsáveis por essa maior proteção delas. 

Eles, no entanto, não são os únicos a direcionar para essas substâncias. Há outros indícios, entre eles o de que grande parte das mulheres grávidas tem apenas sintomas leves de Covid-19. A gravidez provoca alterações profundas no organismo feminino – inclusive um aumento significativo de hormônios sexuais, incluindo estrógeno e progesterona.  

Outros estudos, desta vez ligados à SarsCoV (causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave), já indicavam uma relação entre os hormônios femininos e a doença. “Pode ser um indício de que os hormônios, especialmente o estrógeno, tenham efeito protetor”, explicou o professor Rodrigo Portes Ureshino, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ao portal do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, ressaltando que ainda não há comprovação em relação à SarsCov-2 (o novo coronavírus). 

Ureshino coordena um estudo para entender se existe essa relação entre hormônios femininos e Covid-19. E, em caso de resposta positiva, que substância é essa – vale lembrar que há vários tipos de estrogênio, por exemplo. 

Após uma análise da literatura científica disponível, a equipe selecionou 40 compostos, entre eles o 17β-estradiol, o tamoxifeno e a agenisteína. Segundo o professor, o primeiro foi selecionado por ser o estrógeno mais abundante no organismo. O segundo porque já foi utilizado em outros modelos experimentais de infecção viral. O terceiro, por ser um fitoestrógeno, ou seja, produzido por plantas. Há diversos outros na lista. 

Hormônios e Covid-19 no microscópio 

Em um laboratório de segurança, os pesquisadores primeiro estabelecem métricas. “Tem toda uma padronização: o quanto de vírus entra na célula e que tipo celular a gente vai trabalhar”, explica o professor da Unifesp. Depois, cultivam células e as colocam em contato com a Covid-19. “Nesse ensaio in vitro, vamos investigar se esses compostos têm eficácia tanto na entrada do vírus quanto na replicação viral.”  

Não se sabe quanto tempo durará essa etapa, mas o professor estima que sejam “algumas semanas”. Terminada essa fase, os cientistas selecionarão os melhores compostos e analisarão o mecanismo de ação de cada um deles. “A gente vai poder ver se está entrando menos vírus na célula, se a célula está replicando, produzindo uma quantidade de vírus menor”, esclarece. 

Depois, os compostos que tenham algum tipo de ação protetiva contra a Covid-19 serão utilizados em ensaios e testes pré-clínicos (em que são avaliados aspectos de segurança da substância). “Se for promissor, e a gente acredita que seja”, vão para a fase de estudo clínico, com testagem em seres humanos, segundo Ureshino, que é coordenador do estudo “Avaliação de compostos com potencial terapêutico para SARS-CoV-2: enfoque em compostos com atividade estrogênica, moduladores da autofagia e ECA2”, apoiado pela Fapesp. 

Trabalho a muitas mãos 

“A gente acabou formando uma equipe multidisciplinar”, diz Ureshino, ressaltando que, além de contar com profissionais com diversas especialidades, o time de pesquisa em torno do novo coronavírus é grande e estuda, paralelamente, outros aspectos que podem colaborar para o tratamento do paciente infectado por Covid-19. Um deles tem escopo molecular – e investiga a expressão do receptor ACE-2, que possibilita a entrada do vírus nas células.  

“Teve muita colaboração”, diz ele, sobre a pesquisa no Brasil nesse momento de pandemia. E complementa: “Unir o grupo em várias frentes é muito interessante. Essa parte colaborativa é que vai ficar muito marcada, além da pesquisa. É se ajudando que a gente vai conseguir seguir em frente”. 

Além de Ureshino, os estudos têm a participação dos professores da Unifesp Mário Janini e Carla Máximo Prado, da professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa (FCMSCSP) Roberta Sessa Stilhano, dos pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) Ana Cristina Breithaupt-Faloppa e Luiz Felipe Pinho Moreira, além de pesquisadores de instituições internacionais. Estão envolvidos ainda os alunos de pós-graduação Robertha Lemes, Taysa Bassani, Edgar Cruz, Angelica Costa, Michelle Nishino e Cynthia Bartolomeo. 

Além dos hormônios femininos

Cientistas de outros países também têm estudado o papel dos hormônios femininos na reação do organismo contra Covid-19. Existe ainda quem investigue por uma ótica diferente: a comportamental.  

Por ela, uma das hipóteses é que mulheres, tradicionalmente, teriam mais zelo com a própria saúde – são acostumadas, desde a adolescência, a acompanhar o vaivém do organismo em consultas anuais. Isso faria com que estejam em melhores condições e, portanto, mais aptas a enfrentar o novo coronavírus, em caso de infecção. 

A influência do tabagismo é outro fator que tem sido pesquisado em relação à Covid-19. No mundo, homens fumam mais que as mulheres, segundo a Organização Mundial de Saúde. No Brasil, o quadro se repete. Dados do Vigitel 2019 (sistema de Vigilância de Fatores de Risco para doenças crônicas não transmissíveis, do Ministério da Saúde) indicam que o percentual total de fumantes é de 9,8%, sendo 12,3% entre homens e 7,7% entre mulheres. 

Por ora, não há comprovações. O que se pode dizer é que cientistas de todo o planeta têm se debruçado para obter respostas o mais rapidamente possível. 

Os estudos avançam e o resultado é sempre positivo para a sociedade.

Abraços e até a próxima!

Com informações da Agência FAPESP

Fonte: Instituto de Longevidade Mongeral Aegon

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