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Inflação inercial e a 1ª lei de Newton | Resumo Semanal

Na semana passada revelamos que nas edições seguintes do nosso Resumo Semanal, iríamos responder à algumas das perguntas mais frequentes sobre inflação. Dentre elas estava a seguinte questão: Existe mesmo “inflação inercial”?

A analogia com a inércia vem da primeira lei de Newton que constata que “um corpo em movimento tende a permanecer em movimento”. Esse “pêndulo de Newton” aí na foto não é exatamente o exemplo clássico dessa lei, mas acho que você já entendeu o espírito da coisa.

Ocorre que relacionar economia com física não tem dado muito certo na história econômica. Em uma leitura moderna, a economia tem muito mais a ver com biologia. Ou seja, uma mistura de fenômenos naturais, mas com um grande ingrediente de comportamento humano.

Então vamos desvendar essa história de inflação inercial, já que entender os diversos ângulos do fenômeno da inflação é crucial para nossa educação financeira e previdenciária.

Boa leitura!

? Conhecimento da Semana

Segundo os economistas que a formularam, o termo “inercial” vem de inércia, que significa estar parado. Porém, a inflação inercial não é uma inflação completamente estável. Na realidade, sua natureza é de apresentar uma aceleração moderada, mas contínua. Em outras palavras, é um tipo de inflação que apresenta taxas crescentes, sem que sejam explosivas.

Para entender melhor, vale a pena diferenciar a inflação inercial de outros dois tipos: a comum e a hiperinflação.

A inflação comum, mais encontrada em países desenvolvidos, orbita sempre em torno de um patamar fixo e baixo (menos de 10% ao ano), e pode subir ou descer conforme os ciclos da economia e as políticas adotadas.

A inflação inercial difere da comum, então, por dois fatores: pelo fato de que está sempre crescendo e pelo fato de que seu patamar é mais elevado.

Por outro lado, a hiperinflação, mais encontrada em países em grave crise, é caracterizada por um crescimento explosivo da taxa inflacionária, que sobe vários pontos de um dia para o outro.

A inflação inercial difere da hiperinflação, então, por um fator: o seu ritmo de aceleração, que é mais gradual.

Base da Teoria da Inflação Inercial

A teoria da inflação inercial apresenta uma base, que é vista em qualquer corrente variante sobre o assunto.

Essa base é a ideia de que dois componentes estão presentes em processos inflacionários crônicos: um componente chamado de tendência, que é autônomo, isto é, se reproduz a partir de si mesmo; e um componente chamado choque, que é responsável pela mudança de patamar da taxa.

Ou seja, a tendência é o que faz a taxa de inflação subir constantemente, enquanto o choque é o que faz ela passar de um patamar para o próximo.

É interessante notar que, considerando o componente tendência, o simples fato de existir inflação em um período já implica que vai existir inflação no próximo, mantendo o mesmo ritmo de aceleração.

Como vimos, isso remete à definição física de “inércia” – um corpo tende a permanecer em movimento, a menos que uma força seja aplicada sobre ele. No caso da economia, é a taxa de inflação que tende a continuar crescendo, a menos que sejam adotadas medidas para contê-la.

Controle da Inflação Inercial

Existe um forte debate sobre qual seria a melhor estratégia para o controle da inflação inercial. Luiz Carlos Bresser-Pereira apresentou em 1984 uma proposta chamada de “solução heroica”, que consistia em implementar um sistema de guias de preço. No mesmo ano, Francisco Lopes apresentou a proposta de “choque heterodoxo”, que consistia em realizar um rápido congelamento de preços para quebrar a inércia. Ambas fracassaram pelos motivos que já vimos.

Uma terceira alternativa era uma indexação generalizada e permanente, que foi apresentada por meio da Proposta Larida, criada por André Lara Resende e Pérsio Arida. Ela foi a base teórica por trás de alguns componentes do Plano Real.

Hoje sabemos que existe uma memória inflacionária em países com longos períodos de inflação elevada e que a indexação da economia é um componente dessa memória. E o plano Real foi engenhoso nessa área ao fazer uma transição baseada na URV.

Entretanto, também sabemos que apenas a retirada de sua inércia não resolveria o problema de forma permanente. Porque, na origem, já vimos que a inflação prolongada é um fenômeno monetário, provocado pelo governo ao expandir a base monetária além do ritmo de crescimento da economia. Ou seja: é o estado acionando sua famosa impressora.

Mesmo em países com inflação baixa e controlada, como no Brasil de hoje, existe uma certa tendência a uma inflação inercial, pequena, mas potencialmente persistente, na medida em que diversos preços ainda estão indexados por lei, sendo anualmente corrigidos de forma automática.

Portanto, muitos defendem a eliminação dessa indexação que ainda restou do período hiper inflacionário, como já acontece em diversos países mais desenvolvidos.

Bem, então continue conosco para dominar de vez os vários ângulos desse conceito fundamental para sua educação financeira e previdenciária, que é o da inflação. Com isso, jamais você permitirá que ela comprometa o seu patrimônio, principalmente a longo prazo.

Ficou com alguma dúvida sobre o conteúdo de hoje? Quer fazer um comentário? Escreva para nós: investimentos@mag.com.br.

? Giro Semanal pela Conjuntura*

  • O aumento da tensão entre Estados Unidos e China eleva a aversão ao risco em todo o mundo e faz as Bolsas operarem em queda. Os principais índices europeus e os futuros americanos estão em terreno negativo. Na Ásia, o pregão foi de perdas.
  • O índice Shangai SE caiu 3,86%, refletindo a decisão da China em fechar o consulado americano em Chengdu. Os demais mercados da região também foram afetados. O Hang Seng Index, de Hong Kong, recuou 2,21%. Em Tóquio, os mercados não operaram devido a um feriado local.
  • O governo de Pequim ordenou que o consulado americano cessasse as operações. A decisão veio um dia após os Estados Unidos fecharem o consulado chinês em Houston (Texas) sob a acusações de espionagem e roubo de propriedade intelectual.
  • Há a expectativa de um aumento da tensão entre os dois países em um momento em que se aproxima as eleições presidenciais dos Estados Unidos, que serão realizadas em novembro.

*Em conjunto com dados e informações do nosso parceiro Infomoney

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